Comprar imóvel: financiamento ou consórcio?

A compra de um imóvel costuma ser um processo complexo, repleto de emoção e dúvidas. Geralmente, envolve o sonho de ser dono, seja para morar, alugar ou revender. Como o investimento é alto acaba sendo muito comum não ter todo o dinheiro, o que leva a mais uma decisão: financiamento ou consórcio?

Por isso, é preciso estar atento, buscar informações e fazer contas, pois emoção e razão nem sempre andam de mãos dadas, o que não é bom para o bolso.

Neste texto, vou explicar algumas diferenças que merecem atenção na hora de decidir:


Produto ou serviço?

Esta é a primeira diferença entre os dois: o financiamento é um produto enquanto que o consórcio é um serviço.

Como todo produto que compramos tem um preço, no financiamento estamos comprando dinheiro e pagando o preço dele, ou seja, os juros.

Já o consórcio consiste em uma prestação de serviços, ou seja, você vai contratar alguém para administrar o seu dinheiro (e de todos os participantes do grupo), que vai ser destinado à compra do imóvel. O custo dessa administração é chamado de taxa de administração. Na prática, você estará pagando para uma administradora ficar com o seu dinheiro e lhe devolver daqui a algum tempo.

O Tempo

A segunda diferença é o tempo. Considerando que o financiamento seja um produto, dá para imaginar que ele esteja disponível nas “prateleiras” dos bancos. É só escolher o que mais lhe agrada, “pegar”, passar no caixa e levar.

Já no consórcio não é bem assim. A administradora recolhe mensalmente o dinheiro de todos os participantes do grupo, formando uma poupança única, e você tem que aguardar ser sorteado no mês para ter o dinheiro da compra do imóvel.

[…] característica do consórcio, é não se ter garantia de poder comprar o mesmo tipo de imóvel hoje ou daqui a alguns anos.

Embora as administradoras ofereçam alternativas para lidar com essa restrição (lances, antecipação, etc.), não há certeza de que o dinheiro estará disponível em uma data previamente marcada.

Uma consequência dessa incerteza, característica do consórcio, é não se ter garantia de poder comprar o mesmo tipo de imóvel hoje ou daqui a alguns anos.

Se você já tem um imóvel em vista e ainda não foi contemplado no consórcio, o tempo pode não ser favorável.

O Crédito

Quando se escolhe um financiamento, a primeira coisa a ser feita é se submeter a uma análise de crédito. Você só terá acesso ao financiamento se tiver sua solicitação aprovada previamente.

O consórcio tem uma dinâmica muito mais complexa, pois a análise de crédito só será feita quando houver a contemplação da carta de crédito. Pode acontecer de você ter entrado no consórcio há 5 anos, quando tinha renda e o nome “limpo”. Mas aí veio a pandemia, perdeu a renda que tinha, não conseguiu pagar todas as contas, acabou com o nome “sujo” e, bem nessa época, foi contemplado no consórcio que poderia usar para comprar seu imóvel. Mas, nesse cenário, as chances de não ter seu crédito aprovado são enormes.

Análise de crédito do consórcio pode trazer dores de cabeça sem planejamento correto.

O Custo

Tanto o financiamento quanto o consórcio têm vários custos, motivo pelo qual é preciso prestar muita atenção antes de contratar qualquer um deles.

“Verifique o Custo Efetivo Total, CET, que as instituições são obrigadas a informar.”

No financiamento, além da taxa de juros, as instituições financeiras cobram um seguro de vida e várias outras tarifas. Para saber de verdade qual será o custo final, verifique o Custo Efetivo Total, CET, que as instituições são obrigadas a informar. E preste atenção ao valor do seguro de vida: com o tempo ele aumenta várias vezes.

As administradoras de consórcio também costumam embutir outras tarifas e seguros, além da própria taxa de administração.

É comum o financiamento ter um custo maior que o consórcio, embora sempre seja aconselhável comparar os custos.

O comportamento

Sabe aquela dica: “Veja se a parcela cabe no seu bolso”? Aqui ela não vale.

Há muitas diferenças entre o financiamento e o consórcio, mas uma grande semelhança: o compromisso a longo prazo. Ao longo de dezenas de meses, muitas coisas podem acontecer como, por exemplo, o imóvel precisar de uma reforma ou manutenção, o valor do IPTU aumentar mais que a inflação ou, se for o caso, o valor do condomínio também mudar muito.

Avalie a melhor opção de acordo com a sua realidade. Mesmo que você não goste de números, use o exercício de fazer todas as contas como uma forma de colocar a razão para funcionar.

Para não transformar o seu sonho em pesadelo, a melhor opção será a que dará confiança e tranquilidade, não apenas na hora da compra, mas no seu dia-a-dia.

André Luiz M. Machado é especialista em comportamento financeiro e fundador da MoneyMind.
@moneymindbr